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sábado

OBSERVAÇÕES - Ronaldo Vieira


Vejo plantas de plástico
Quase vivas
Ao lado das vivas
Quase mortas
(expostas)
Em prateleiras brancas
Preferidas
Por compradores tortos
Semimortos
Olhos verdes, espinhentos
Mal-humorados
Quase vivos
Frios, sem sentimentos
Como as flores de plástico
Paradas
Em mesas nas casas
Pegando pó
Fazendo flores chorar
(chega a dar dó)
Seres ainda vivos
Na sala
No ambiente morto
Com objetos sólidos
Nus, pesados, mórbidos
Sem luz, parados, sentados
Quase mortos
Olhando flores
Já mortas – o frio corta minha espinha
Abro a porta
Entrevejo;
Plantas de plástico “quase vivas!”
poesia do livro essência de tudo/2009 - Meireles editorial

O mundo anda confuso... - Ronaldo Vieira

17 - SEM TÍTULO (03.07.2007)
O mundo anda confuso
Tão confuso... E feito mudo
Quieto, gato manso
Cansando-se do abuso.

Abusa-se tanto o mundo mudo
Que, com efeito,
De manso gato torna-se irado
E acuado ataca ao ser atacado.
do livro "Essência de tudo"

segunda-feira

MONOPOLIZAR AS CORES? - RONALDO VIEIRA

MONOPOLIZAR AS CORES?
O cinza de cada esquina
De cada prédio, muro ou avenida
Confundem-se com a vida.

Basta olhar para um rosto
E encontrar ali um pedaço de prédio
Pedaço de muro ou de meio fio

Apesar das formas diferentes
A cor insistente as torna como se gêmeas
São milhares de gêmeos cinzentos
Sob um céu da mesma cor
Sobre os olhos
A pele, alma e roupas
Tudo cinza!

Não há viva cor de vitrine
Que consiga colorir estas cútis
Estes tecidos que as cobrem, não há!

E nada que se diga, ou se faça
Servirá para aquecer ou enrubescer
As faces, as mãos e coração...

Talvez isso seja sobreviver
Talvez isso seja normal
Ou apenas uma forma de monopolizar as cores?
do livro "Essência de tudo"